Filho do grande escritor Érico Veríssimo, Luiz Fernando nasceu dia 26 de setembro de 1936, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul.












Geralmente da com muito bom humor é considerado escritor prolífero pela descontração em falar de qualquer tema e uma visão sólida e crítica, de quem realmente sabe sobre o que está escrevendo.









Recordista de vendas no pais já foi apelidado de paixão nacional













Há oito anos, faz parte da Jazz 6, onde toca sax.
Será que perderemos um escritor por um musico? ou Ganharemos?


Nota Biografica


Veríssimo? Quem é?

Luis Fernando Veríssimo nasceu em 26 de setembro de 1936 em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Filho do escritor Erico Veríssimo e Mafalda Veríssimo. Em 1954, a família viajou novamente para os Estados Unidos, onde Erico exerceu a função de Presidente do Departamento de Assuntos Culturais da União Pan-Americana, em Washington, durante 4 anos. Foi nesta época que Luis Fernando iniciou seus estudos de música, aprendendo a tocar saxofone e tornando-se um admirador de jazz.

Ao retornar ao Brasil, em 1956, começou a trabalhar na editora Globo de Porto Alegre, no setor de arte e planejamento. Em 1962 transferiu-se para o Rio de Janeiro onde exerceu as atividades de tradutor e redator de publicações comerciais. Casou-se com a carioca Lúcia Helena Massa, sua colega de trabalho na redação do Boletim da Câmara de Comércio do Rio de Janeiro. Da união nasceram três filhos: Fernanda, Mariana e Pedro.

Em pouco tempo já mantinha uma coluna diária, que o consagrou por seu estilo humorístico e uma série de cartuns e histórias em quadrinhos. O primeiro livro, "O popular", de crônicas e cartuns, foi publicado em 1973. Em 1995, o livro O Analista de Bagé, lançado em 81, chegou à centésima edição. Algumas de suas crônicas foram publicadas nos Estados Unidos e na França em coletâneas de autores brasileiros.

Obras principais: O popular (1973); As cobras (1975); Ed Mort (1979); O analista de Bagé (1981); O gigolô das palavras(1982); A velhinha de Taubaté (1983); Comédias da vida privada; Comédias para se ler na escola (2001); As mentiras que os homens contam às mulheres (2001)

Aí galera!


Aí, Galera

Jogadores de futebol podem ser vítimas de estereotipação. Por exemplo, você pode imaginar um jogador de futebol dizendo "estereotipação"? E, no entanto, por que não?— Aí, campeão. Uma palavrinha pra galera.—Minha saudação aos aficionados do clube e aos demais esportistas, aqui presentes ou no recesso dos seus lares.— Como é?— Aí, galera.— Quais são as instruções do técnico?
— Nosso treinador vaticinou que, com um trabalho de contenção coordenada, com energia otimizada, na zona de preparação, aumentam as probabilidades de, recuperado o esférico, concatenarmos um contragolpe agudo com parcimônia de meios e extrema objetividade, valendo-nos da desestruturação momentânea do sistema oposto, surpreendido pela reversão inesperada do fluxo da ação.— Ahn?— É pra dividir no meio e ir pra cima pra pegá eles sem calça.— Certo. Você quer dizer mais alguma coisa?
— Posso dirigir uma mensagem de caráter sentimental, algo banal, talvez mesmo previsível e piegas, a uma pessoa à qual sou ligado por razões, inclusive, genéticas?— Pode.— Uma saudação para a minha progenitora.— Como é?— Alô, mamãe!— Estou vendo que você é um, um...
— Um jogador que confunde o entrevistador, pois não corresponde à expectativa de que o atleta seja um ser algo primitivo com dificuldade de expressão e assim sabota a estereotipação?— Estereoquê?— Um chato?
— Isso."

Comentário

Percebemos de imediato que se trata de uma entrevista que cria uma situação ideal que provoca o riso. O humor é aqui veiculado por meio do inesperado, em que cada expressão "erudita" do jogador soa como algo tão fora de contexto que, ao imaginarmos a situação, não deixamos de achar graça. A habilidade do autor consiste em explorar com inteligência uma situação hipotética de inadequação lingüística para provocar o humor.

O nariz

O Nariz
Luis Fernando Veríssimo


Era um dentista, respeitadíssimo. Com seus quarenta e poucos anos, uma filha quase na faculdade. Um homem sério, sóbrio, sem opiniões surpreendentes mas uma sólida reputação como profissional e cidadão. Um dia, apareceu em casa com um nariz postiço. Passado o susto, a mulher e a filha sorriram com fingida tolerância. Era um daqueles narizes de borracha com óculos de aros pretos, sombrancelhas e bigodes que fazem a pessoa ficar parecida com o Groucho Marx. Mas o nosso dentista não estava imitando o Groucho Marx. Sentou-se à mesa do almoço – sempre almoçava em casa – com a retidão costumeira, quieto e algo distraído. Mas com um nariz postiço.- O que é isso? – perguntou a mulher depois da salada, sorrindo menos. - Isso o quê? - Esse nariz. - Ah. Vi numa vitrina, entrei e comprei. - Logo você, papai... Depois do almoço, ele foi recostar-se no sofá da sala, como fazia todos os dias. A mulher impacientou-se. - Tire esse negócio. - Por quê? - Brincadeira tem hora. - Mas isto não é brincadeira. Sesteou com o nariz de borracha para o alto. Depois de meia hora, levantou-se e dirigiu-se para a porta. A mulher o interpelou. - Aonde é que você vai? - Como, aonde é que eu vou? Vou voltar para o consultório. - Mas com esse nariz? - Eu não compreendo você – disse ele, olhando-a com censura através dos aros sem lentes. – Se fosse uma gravata nova você não diria nada. Só porque é um nariz... - Pense nos vizinhos. Pense nos cliente. Os clientes, realmente, não compreenderam o nariz de borracha. Deram risadas (“Logo o senhor, doutor...”) fizeram perguntas, mas terminaram a consulta intrigados e saíram do consultório com dúvidas. - Ele enlouqueceu? - Não sei – respondia a recepcionista, que trabalhava com ele há 15 anos. – Nunca vi ele assim. Naquela noite ele tomou seu chuveiro, como fazia sempre antes de dormir. Depois vestiu o pijama e o nariz postiço e foi se deitar. - Você vai usar esse nariz na cama? – perguntou a mulher. - Vou. Aliás, não vou mais tirar esse nariz. - Mas, por quê? - Por quê não? Dormiu logo. A mulher passou metade da noite olhando para o nariz de borracha. De madrugada começou a chorar baixinho. Ele enlouquecera. Era isto. Tudo estava acabado. Uma carreira brilhante, uma reputação, um nome, uma família perfeita, tudo trocado por um nariz postiço.

- Papai... - Sim, minha filha. - Podemos conversar? - Claro que podemos. - É sobre esse nariz... - O meu nariz outra vez? Mas vocês só pensam nisso? - Papai, como é que nós não vamos pensar? De uma hora para outra um homem como você resolve andar de nariz postiço e não quer que ninguém note? - O nariz é meu e vou continuar a usar. - Mas, por que, papai? Você não se dá conta de que se transformou no palhaço do prédio? Eu não posso mais encarar os vizinhos, de vergonha. A mamãe não tem mais vida social. - Não tem porque não quer... - Como é que ela vai sair na rua com um homem de nariz postiço? - Mas não sou “um homem”. Sou eu. O marido dela. O seu pai. Continuo o mesmo homem. Um nariz de borracha não faz nenhuma diferença. - Se não faz nenhuma diferença, então por que usar? - Se não faz diferença, porque não usar? - Mas, mas... - Minha filha... - Chega! Não quero mais conversar. Você não é mais meu pai! A mulher e a filha saíram de casa. Ele perdeu todos os clientes. A recepcionista, que trabalhava com ele há 15 anos, pediu demissão. Não sabia o que esperar de um homem que usava nariz postiço. Evitava aproximar-se dele. Mandou o pedido de demissão pelo correio. Os amigos mais chegados, numa última tentativa de salvar sua reputação, o convenceram a consultar um psiquiatra. - Você vai concordar – disse o psiquiatra, depois de concluir que não havia nada de errado com ele – que seu comportamento é um pouco estranho... - Estranho é o comportamento dos outros! – disse ele. – Eu continuo o mesmo. Noventa e dois por cento de meu corpo continua o que era antes. Não mudei a maneira de vestir, nem de pensar, nem de me comportar, Continuo sendo um ótimo dentista, um bom marido, bom pai, contribuinte, sócio do Fluminense, tudo como era antes. - Mas as pessoas repudiam todo o resto por causa deste nariz. Um simples nariz de borracha. Quer dizer que eu não sou eu, eu sou o meu nariz? - É... – disse o psiquiatra. – Talvez você tenha razão... O que é que você acha, leitor? Ele tem razão? Seja como for, não se entregou. Continua a usar nariz postiço. Porque agora não é mais uma questão de nariz. Agora é uma questão de princípios.












Crítica feita por professoras:

http://artes.wordpress.com/2007/10/04/o-nariz-luis-fernando-verissimo

1. Edilaine Pereira (Professora) Diz: 5 Agosto 2008 às 4:30 PM
Retificando: julgamos por julgamos
Este texto brilhante de Veríssimo mostra com humor as dificuldades que o ser humano tem de conviver com as diferenças. Prega-se inclusão social, cultural, de raças, mas, na prática conservamos estereotipas inerentes da sociedade em que fomos constituídos. Tudo que se distancia do padrão imposto pela sociedade, julgamos não serem corretos e tentamos expelir do nosso convívio.

2. Professora Lourdes Almeida Diz: 11 Agosto 2008 às 11:12 AM
A literatura além da função lúdica tem também a função catártica.a partir de um texto, aparentemente, simples, temos uma reflexão concreta do comportamento da humanidade. As pessoas vivem em convenções, presas a padrões que muitas vezes as destroem. Que pena!
Crítica feita pelas alunas de Letras:


Luis Fernando Veríssimo tem um estilo que, segundo ele, é mais voltado para o entretenimento do que para a literatura. O que não é de todo verdade, já que o que ele realmente faz é tornar a literatura menos aborrecida. Entre as características constantes em seus textos, está o bom humor, a descontração em falar de qualquer tema e uma visão sólida e crítica, de quem realmente sabe sobre o que está escrevendo.

Seu estilo é um misto de estilos de poetas, humoristas, cronistas, críticos, jornalistas, desenhistas e músicos. Seus textos possuem todos esses traços, formando uma fórmula imbatível em oferecer o prazer na leitura.
Veríssimo trata em todos os seus textos a realidade, o mundo em que vivemos. Passa opiniões precisas, sempre céticas e bem humoradas. Porém sabe escrever com seriedade quando o momento requer. Mesmo que não se concorde com todas as suas opiniões, ainda assim há aquela necessidade de se ler - e correr o risco de acabar convencido pelo texto pela sua posição sólida.
Sua perspicácia em analisar a alma humana e suas limitações (e ilimitações) e passar isso ao leitor de forma transparente, tornam suas obras incomparáveis. Sua visão do mundo e dos fatos que acontecem, suas implicações escondidas, seus comentários sobre acontecimentos banais e não tão banais. Apenas alguns exemplos dos assuntos tratados. Seus textos, mesmo quando informativos entretem de forma prazerosa, pela sua complexa simplicidade.

Criação Literária


Resolvendo de imediato
Alessandra Gotardo


O relógio da sala já marcava 22; 00 horas,minha mãe me colocou na cama e me disse baixinho,sonhei com os anjos,não demorou muito para que eu começa-se a sonhar : Sonhei que tinha sido eleito o Presidente da Republica Federativa do Brasil.
Nomeei os ministros, e determinei as primeiras ordens:
Ao ministro da Fazenda, determinei que fosse reajustado o salário mínimo imediatamente conforme determinei a constituição conforme determinei a constituição, isto é que o valor do mesmo garati-se, saúde,educação,alimentação,vestuário,transporte, e diversão.Porém fui informado que era impossível atender a determinação,pois muitas prefeituras iriam quebrar.
Determinei ao ministro da educação que a partir desta data todas as crianças teriam que freqüentar sala de aula imediatamente, porem fui informado pelo ministro da educação, que também era impossível cumprir esta determinação, pois, muitas crianças trabalhavam ou pediam esmolas nas ruas para sustentar vários pais desempregados.
Determine ao ministro da justiça que mandasse, os policias cumprirem imediatamente os mandados de prisão expedidos pelos juizes competentes, porem fui informado que era impossível atender a determinação ,pois mesmo que soubéssemos onde encontrava-se os criminosos,o país não tem celas suficientes para prende-los.
Graças a Deus acordei com minha mãe, me chamando para tomar café, pois a hora de ir a escola já se aproximava, pois ,caso continuasse dormindo,logo iria descobrir que nomeando o ministro da reforma agrária a mesma não poderia ser feita de imediato,nomeando ministro do transporte,os preços das passagens não iriam baixar de imediato,nomeando a ministro da agricultura a fome não iria acabar de imediato,nomeando o ministro da igualdade racial o preconceito não iria acabar de imediato.
Mas uma coisa tanto eu como você podemos fazer de imediato. Ajoelhamos e pedir ao nosso Deus para que ilumine a mente, de todos os governantes, mesmo que a nossa presse não seja atendida de imediato. A fome e o preconceito precisam acabar e a justiça, a saúde a reforma agrária precisa acontecer. Pois somente assim as pessoas poderão ser felizes, viverem com harmonia e paz.


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Estrumufar
Luiz Fernando Verissimo
Contam que lançaram no mercado uma estrumufadeira. Uma intensa campanhapublicitária convenceu muita gente que deveria ter a novidade em casa, e naentrega de cada estrumufadeira ia um técnico junto para explicar seufuncionamento. Era fácil. Colocava-se a estrumufadeira ? uma caixa detamanho médio ? em qualquer lugar da casa, no chão ou em cima de um móvel,ligava-se a estrumufadeira numa tomada, apertava-se um botão e pronto, aestrumufadeira começava a estrumufar. O técnico fazia "Ó", com a mão atrásda orelha, para todos ouvirem o ruído que vinha de dentro da caixa. O queera aquilo? Era a estrumufadeira estrumufando. Era o som do estrumufe.
E o que era, exatamente, estrumufar? Bem, dizia o técnico, isso só se saberiaarrombando a caixa para ver o que acontecia lá dentro, o que os fabricantesnão recomendavam, sob pena de a estrumufadeira parar de estrumufar. Alémde, automaticamente, invalidar a garantia.Alianças políticas como a que o PT está fazendo para ter uma maioria segurano Congresso e aprovar o que quiser podem levar a um paradoxo delicado,parecido com o da estrumufadeira. Presume-se que alguns projetos que ogoverno, se ainda não se peessedebelizou por completo, queira ver aprovadospela sua maioria no Congresso sejam minimamente "de esquerda" (por exemplo,algo inédito em matéria de tributação para finalmente começar adesconcentrar riqueza no Brasil, ou não foi pra isso que se votou no PT?).
Mas a condição para alianças heterogêneas funcionarem é jamais veremdesafiadas as ortodoxias que as unem, e alguém imagina o novo centrãoaprovando mudanças radicais na taxação de grandes fortunas e etc.? Aliançasde desiguais só sobrevivem da renúncia mútua e o PT tem mais a renunciar doque o PMDB e os outros. Alianças como estas só são viáveis se nãoadiantarem. A estrumufadeira só existe para estrumufar. Qualquer outraexigência, como a de fazer pipoca ou fazer sentido, a destruiria. E quandoa arrombam para descobrir que diabo, afinal, é estrumufar, ela pára deestrumufar e ninguém fica sabendo.Contam que tem muita gente satisfeita com sua estrumufadeira em casa.Gostam de ter aquela coisa ao seu lado, apenas fazendo o que dizem que elafaz, seja isso o que for. E nada mais. Enfim, algo em que acreditar
O Globo, 1 de fevereiro, 2004